segunda-feira, 26 de julho de 2010

A Figura do Avaliador Externo no Sistema RVCC - Drª Luisa Esteves

Ao em Avaliador Externo, uma questão se pode colocar: que relevância assume a sua presença nas Sessões de Júri? É, pois, neste contexto, que venho partilhar convosco a minha reflexão.
O Avaliador Externo é um elemento exterior ao Sistema Nacional de reconhecimento, Validação e certificação de Competências. Pela experiência que tenho vindo a adquirir enquanto Avaliadora Externa, sinto-me à vontade para poder afirmar que as suas funções vão para além das que se encontram definidas no Roteiro Metodológico (p.20).
Avaliar não é fácil sobretudo quando estamos em presença de adultos com um largo e longo percurso de vida, quer em termos profissionais como sociais e pessoais e, com os quais apenas se estabeleceram alguns breves “contactos”: através da análise dos PRA, Reunião de Validação e presença efectiva nas Sessões de Júri. Adultos com Histórias de Vida ricas de competências e que nem sempre são evidenciadas de forma clara e objectiva nos seus PRA, sendo necessário, por vezes, “saber” ler nas entrelinhas. Abrir um PRA, lê-lo, analisá-lo ou avaliá-lo é, na maior parte dos casos, entrar na realidade mais profunda de cada adulto, seja na esfera profissional, pessoal, afectiva ou relacional, razão pela qual o Avaliador Externo deverá garantir a confidencialidade das informações relativas a cada adulto.
Tenho a convicção de que, à medida que me vou envolvendo no Programa Novas Oportunidades, mais reconheço a importância que todos os actores envolvidos assumem neste Processo, incluindo, como é evidente, o do Avaliador Externo, em que a sua função acaba por ser transversal a todo o processo: não se limita à mera “formalização” do acto público em si, dando legitimidade, confirmação e reconhecimento social às competências e qualificações dos adultos, mas passa a assumir uma atitude valorativa perante as essas competências evidenciadas, ajudando o adulto a despertar para novos desafios futuros, incentivando-o à participação cívica numa perspectiva de maior desenvolvimento da cidadania, assim como no prosseguimento da sua formação e qualificação ao Longo da Vida pois, deste modo, todos estaremos a contribuir para o desenvolvimento do País que no contexto Europeu, conta ainda com índices muito frágeis de qualificação escolar e profissional.
É sob o olhar atento do Avaliador Externo que a Sessão de Júri se desenvolve: compreender a realidade individual de cada adulto e escutá-lo no seu melhor; ter consciência do esforço, empenho e dedicação com que muitos adultos se entregam a este Processo de Formação, é acima de tudo acreditar que muitas pessoas podem mudar as suas vidas e os seus percursos profissionais, tornando-se mais independentes e mais “senhores” dos seus destinos e das suas opções é, finalmente, ter consciência de poder estar a contribuir para que “ todos sejamos mais iguais”, corrigindo desigualdades sociais.
Poder colaborar na reposição do reconhecimento social da grande maioria dos adultos, na sua afirmação pessoal, valorizando as suas competências e os seus saberes, é sem dúvida um aspecto gratificante e estimulante até porque para muitos deles, a Sessão de Júri constitui a primeira possibilidade de evidenciar, em público, as suas capacidades e experiências de vida. Pessoas com uma grande vontade de saber e de aprender! Pessoas, por vezes, simples na sua postura mas muito dignam na sua “sabedoria”. São estas pessoas, muitas delas anónimas, que fazem mover o País mesmo quando este se encontra em crise! Pessoas que não se queixam, mas que lutam e lutam, porque afinal as suas vidas sempre foram feitas de “lutas”, de muitas “lutas” e algumas bem dolorosas!
É a “luta” de quem caiu nas malhas do desemprego, cansados de lutar porque, por vezes, duvidam das suas competências. É a “luta” pelo 9º ou 12º ano, um sonho desde há muito por conquistar. É a “luta” de ter de enfrentar as Novas Tecnologias e obter o seu próprio computador como forma de afirmação social e reconhecimento das suas capacidades! É ainda a “luta” de acreditar ( alguns) no seu espírito empreendedor, na sua capacidade de “saber fazer”! Uma infinidade de “lutas”mas que, graças ao Programa das Novas Oportunidades, estas pessoas vão lutando, vão acreditando, vão fazendo e vão conseguindo alcançar vitórias!
Subjacente a estas funções em torno do Avaliador Externos, sobressai uma postura educativa e formativa de todos os intervenientes neste Processo colocando-se totalmente ao serviço do público adulto que procura os Centros Novas Oportunidades com o objectivo de melhorar as suas qualificações. Em suma, poderemos então concluir que o Avaliador Externo é como que a âncora da credibilidade do Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências.

Coimbra, 23 de Junho de 2010
A Avaliadora Externa
Maria Luísa Esteves da Silva